Que bom que você veio!

A internet é um lugar incrível. Meio praia, porque reúne todas as tribos, meio coração de mãe, porque "sempre cabe mais um" - mesmo que você não use aquele desodorante da antiga propaganda... E-mail cá, e-maile-eu aqui. Utilizando um meio de comunicação que atinja todas as pessoas... Que quiserem serem atingidas! Acertei?

terça-feira, 25 de março de 2014

A dona da pressa

A pressa é dela.

A dor também.

A pressa é dela.

A solidão também.

A pressa é dela.

A saudade também.

A pressa é dela.

O medo também.

A pressa é dela.

A fuga também.

Ninguém faz nada.

Covardes.

Também.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Em trinta dias

Ela o arranca do corpo.

Por isso doi e acorda com a camisola suja de sangue.

Há uma pequenina ferida aberta do lado do seu coração.

sábado, 22 de março de 2014

Porque doi também.

Ela viu seu olho molhado.

Foi falando com ela que seu olho molhou.

Sabia que ela quis abraçá-lo e com um beijo enxugar esse olho?

O olho molhado é porque quer enterrar o espaço ou por que vai acabar o encontro?

Falou a mesma coisa pra outras pessoas, mas foi ela que viu seu olho molhado.

Por que era por ela que sobrava água?

terça-feira, 18 de março de 2014

Possível

Ela queria estar no avião que sumiu.

Ou no caixão da mulher-arrastada. Tratada como lixo.

Morrer não é verbo.

É um desejo que espera.

domingo, 16 de março de 2014

Empurrando com a barriga

Por que não se faz aquilo que precisa ser feito?

Por que não quer encontrar?

Não quer (se) ver?

Será que desconfia da dor que causa?

A explicação é sempre a mesma - só uma coisa importa?

Coisa pequena e triste.

E mesquinha.

E que aprisiona.

Envenena lentamente.


quarta-feira, 12 de março de 2014

Filete de morte

Aquilo que se rasga em fenda sangra.

Vermelho claro porque há um fluido esbranquiçado.

Não se sabe o que é isso.

Aguinha branca não identificada.

Baba do corte.

O líquido que escorre não é o que se mostra.

Aparente é aparência.

Transparente, deixa que lhe atravesse tudo.

Luzes, cores, imagens, velocidades.

Sem dobra, tudo passa.

Sem dobra e com fenda.

Esse rasgo, meio, nada, escuro.

É morte.

Morte em nós.

A morte vive em nós.




terça-feira, 11 de março de 2014

Sem poder

Se ela pudesse, curava você.

Tirava você da prisão do reflexo do lago.

Porque você vai se afogar nessa imagem.

E ela quer você vivo.

Se ela pudesse, ela roubava você.

Porque você é valioso.

E ela é invejosa, possessiva e má.

Se ela pudesse, ela esquecia você.

Porque você é obsessão.

E ela, doente.

Se ela pudesse, ela gargalhava de você.

Porque você é ridículo.

E ela também.

Se ela pudesse, viveria isso na carne.

Porque ela largou da sua mão.

Sem saber se era isso que você queria.

Sombra

Ela não cabe.

Não cabe no trabalho.

Não cabe na profissão.

Não cabe com os amigos.

Não cabe com o amor.

Não cabe com o desejo.

Não cabe consigo.

Por não caber, ela vagueia.

Perdendo-se sempre um pouco mais.

Ela olha os móveis, mas não enxerga.

Ela se alimenta, mas não sente gosto.

Vontade de desaparecer.

Já que não está nem aí.

domingo, 9 de março de 2014

Escuro que ninguém vê

Mal abre o olho.

Arde.

Tudo arde.

Corpo grita.

Cabeça vazia.

Boca amarga.

Aquele outro no sonho.

Acordou com medo.

No relógio sem ponteiro, tempo a atravessa.

Coração insiste.

Palavras palavras palavras.

É morte.

Tudo é morte.

domingo, 2 de março de 2014

Necessidade

Proteja-me.

Escute-me.

Abrace-me.

Entenda-me.

Apoie-me.

Olhe-me.

Silencie-me.

Ame-me.

Pedro falou, tá falado!

E ele diz do alto de seus oito anos:

- Mãe, tirando gente, qual a coisa que vc mais gosta? Igual a armário, flor, montanha?

- Pode ser música? - Ela responde perguntando.

- Pode.

- E vc? (Mãe de curioso, curiosa é...)

- Eu gosto de morcego. E de Tecnologia.



- Sexta é dia de brinquedo! - Comunica o atarefado virginiano para sua avó.

- Tem certeza?

- Tenho sim, a professora falou.

- Vc já está na terceira série... Até quando vc vai levar brinquedo?

- Acho que vou levar brinquedo até a faculdade.

E eu desejo que vc queira brincar por toda a vida...

- Mãe, vi um homem tão feio na rua! Ele tava inteiro tatuado nas costas, nas pernas, nos braços e nos dedos das mãos. Fiquei com vontade de cantar pra ele:

"Quando Deus te desenhou, ele tava sem borracha, sem apontador e com o lápis sem ponta..."




Mãe, posso ver o DVD que vc me deu na Páscoa?
Pode. Mas não foi o Coelho que te deu?

- Não. O coelho de Páscoa só dá ovo. Presente dá vc e o Papai Noel no Natal...



E ele lê o recado da agenda pra mãe, muito solícito:

"Trazer para a próxima aula uma foto 3 vezes 4,

recente"...

Ensinado a tocar flauta doce: "Você tem que prestar atenção e colocar os dedos nos edifícios certos..."

Perguntas "básicas": De onde sai a teia da aranha, da laringe? Qual a coisa mais saudável do mundo?



O que realmente importa: (depois de ter retirado o aparelho ortodôntico fixo) "agora sim vc vai poder apertar minha bochecha e eu vou poder comer chiclete!"



Explicando porque não queria brincar com a garotinha: "tenho vergonha de brincar com meninas do sexo oposto"



Mãe, vc é de que signo? Peixes ou Camarões?

Por que os malucos gostam de arte?



- Mãe, por que o Presidente da República é rico?

- Ah, sei lá... Porque ele ganha muito dinheiro...

- E por que ele ganha muito dinheiro se ele não faz nada?

Comentário sobre a matéria do Fantástico, a respeito do sumiço do Belchior: "mãe, olha o Gopal!"



De que adianta lactobacilos vivos, se quando a gente agita o yacult eles morrem todos?



Mãe, explica EXATAMENTE o que é fé.