Que bom que você veio!

A internet é um lugar incrível. Meio praia, porque reúne todas as tribos, meio coração de mãe, porque "sempre cabe mais um" - mesmo que você não use aquele desodorante da antiga propaganda... E-mail cá, e-maile-eu aqui. Utilizando um meio de comunicação que atinja todas as pessoas... Que quiserem serem atingidas! Acertei?

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Terra distante

Sonhou que estavam juntos.

Acordou de tanta alegria.

Crianças...

Papai Noel foi no correio.

Pegou cartinha da menina de 06 anos.

Ela queria uma boneca.

Papai Noel achou uma linda.

Era uma boneca preta.

Papai Noel ficou na dúvida: e se a menina não fosse preta?

Mas tantas meninas pretas brincam com bonecas brancas...

Por que uma menina branca não pode brincar com uma boneca preta?

Papai Noel comprou a boneca.

Linda boneca preta.

***

Ela se lembrou de quando contava histórias pra ele dormir, do seu livro preferido.

Seu rosto se iluminou! Voltou a ter 04 anos de idade!

Também lembrando do livro, disse com uma seriedade que fez um bolo na garganta dela e o olho encheu de água:

- Sempre que você lia o livro e mostrava as figuras, o fogo do desenho mudava de lugar.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Chegar perto

Aquela carta tem outro destinatário e outro remetente.

Delicadíssima forma de expressar um amor.

Difícil separar quando se encontra.

Inesquecível aquele roçar de pele. Barba nascendo e arranhando. Suave e doce.

Dedos se enfiam nos cabelos. Força e desejo.

Bocas se aguam...




segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Do outro lado...

Ilusão, vontade...

Antecipação

Há algo que não encaixa - nem tudo deve encaixar...

Parece que uma coisa vai acontecer

O quê?

A angústia é prima do medo.



sábado, 23 de novembro de 2013

O que se esconde?

A alegria imensa, doce e intensa foi se desdobrando.

Lentamente, foi virando dor. Dor tão funda, que não finda.

Por que o gosto doce se tornou salgado?

O amor sentido, quem sabe, percebido. E não vivido.

Vem daí o choro?

O buraco da escuridão, o amargo da raiva.

Reconhecer que não sabe receber amor...

Vazio que vibra soturno como réquiem em violoncelo.

E a maldita janela parece que espera.

Boca sem dente, aberta.

Querendo comer...

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sem gosto.

Eu não sei nadar.

Não sei boiar.

Não sei me deixar levar.

Não sei me permitir.

Não sei fechar os olhos e mais nada.

Não sei me tranquilizar.

Não sei esperar.

Não sei aceitar.

Não sei me perdoar.

E ninguém sabe o que sangra em mim.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Pequeno prazer

O sorriso lindo é o cheiro delicioso: ambos colam na memória.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

De olhos fechados para ver

Na primeira vez, alegria.

Na segunda vez, melancolia.

Na terceira vez, asfixia!

Canto e dança e música.

Corpos cada vez mais próximos.

Alegria, amor e calor envolvem.

Isso basta e alimenta e continua horas depois.

(Memória atiça um corpo)

Ninguém sabe dançar.

Ninguém sabe.

Não é segredo.

É sagrado.




terça-feira, 12 de novembro de 2013

Uns nós

Ele fala, mas ela não escuta uma só palavra.

Parece não acreditar no que vê: a boca mexe num abre-e-fecha sem som.

Ela olha em volta e aquelas paredes lhe dão a sensação de comprimi-la.

Ela olha pra ele, que continua em sua fala muda sem saber da angústia que a assusta.

É o jeito preferido dela estar com ele: sozinhos. Mas ela não relaxa.

Sente o tempo congelado dentro daquela sala, mas tudo girando freneticamente à sua volta. Ela teme desmaiar.

As palavras dele voltam a ter som. Uma certa conversa se instaura, mas há uma eletricidade no ambiente: ambos fingem, talvez. Talvez quisessem estar em outro espaço, fazendo outra coisa.

Querem estar juntos. Os abraços apertados são bons, mas ela não consegue retribuir dessa vez. O corpo mole não aperta, porque se fizer isso, capaz de não soltar. Segura choro e vontade de aninhar, frente a mais uma história triste. Quanta dor cabe no espaço-vida...

Sente que quer ficar perto, conta histórias, lamenta-se sobre o que tem observado por aí. Fala de si?

Parecem caminhar lentamente para algo irresistível e incontrolável. Mas recuam. Ambos. Medo e desejo, diz a música...

Confusão, ambiguidade, vontade de estar perto. Saudade.

Quanto sentimento cabe no espaço entre esses corpos?

Pela primeira vez viu que não era a única a querer estar perto.

Pela primeira vez falou de coisas que saíram do plano virtual, tornando-se "reais", virando corpo-mensagem. Cenas perturbadoras: a performance, a poesia, o texto mortal desferido num dia de amarga dor. Soube, enfim, que o que enviou foi recebido.

A comunicação sempre existiu. Na fala, na escrita. No silêncio. Na loucura. Na alegria.

Pela primeira vez sentiu medo da reciprocidade.



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Des-ato

Talvez a saudade seja tanta que não percebeu o risco.

Ou percebeu e nada anda importando?

Ou o que importa é estar junto a qualquer preço-hora?

Logo se compartilhará o amoroso silêncio.

domingo, 10 de novembro de 2013

Amor e montanha



No filme  maravilhoso, a história de um amor cheio de dor e dúvida.

Mas havia a montanha, o cozinhar, o forno à lenha.

Aquele ambiente rude, diferente do que se vive, não é mais estranho.

Memórias intensas do que viveu vem à tona.

Às vezes se esquece do que é ser amada longamente...


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Entre lobos e ovelhas

Finalmente eu vi você.
Vi da melhor maneira possível: sem recíproca.
Vi que você era você mesma que eu já tinha visto antes.
Vi que você é linda... Mais que demais...
Você é magra.
Você é alta.
Você é branca.
Você é odiada... 
Você é vazia...
Você é uma farsa.
Você finge?
Nossa, que vontade de vomitar... Perdão...
Eu não a quero mal, mas tenho tanta raiva de você... Tanta...
Por que será que eu acho que você tem cara de infelinzz?
Que sua vida é mais cú do que cool?
Você tem uma cara de covarde... Sabe essas pessoas que escondem desejos e imperfeições? Dessas que defendem coisas mas não as incorporam... Essas pessoas medíocres, hipócritas? Isso! Você tem cara de hipócrita covarde... Perdoe-me o julgamento, falar assim. Mas é o que eu sinto.
É claro que eu tenho inveja de você! Você tem n-1 coisas que eu não tenho.
Mas eu tenho pena também. Uma pena profunda. Você é um fantasma assombrando nós duas... Ora me lembrando que tem a comunicação, o falo... Ora negando sua natureza. Você tem uma cara de burguesinha-suquinho-de-maçã... Que enjoa... Em alto-mar, em terra firme, na puta que a pariu. E por falar nisso, não é que, de certa forma, somos irmãs?
Eu acho que você lentamente, começa a envelhecer e anda querendo brincar de boneca. Mas isso não vai te acontecer. Não do jeito que está. Mas você nega esse desejo, seu útero é de madeira, de asfalto, de terra, grama, areia, água. Sem líquido amniótico.
E se você não for mãe, a culpa é sua. Não aceite o que vai contra sua natureza. Rebele-se. Afaste-se.
Já pensou se tudo isso for uma grande bobagem? Que papel ridículo... Mas eu não tenho medo do ridículo, acredita? Tenho vergonha...
Sabe, às vezes acho que você  também me descobriu. Que sabe tudo de mim. Que também tem inveja de mim - há há há! Que perda de energia - e que tem medo. Isso é estranho, porque eu não tenho medo de você. Tenho raiva, inveja e pena. Mas não lhe quero mal, acredite, já disse isso. Mas essa fantasia que eu criei de que você tem medo de mim, interessa... Eu acho que você tem medo de mim porque eu invadi sua vida. Sem querer. De repente, entrou na sua casa coisas que você nunca viu, risadas que nunca foram dadas. Ausências evidentes. Mudanças de olhar, de jeito de falar, de assuntos. Entrou vida nessa casa!

"Olha só", se você tiver medo, eu entendo. Medo é proteção. Juro que não é uma ameça, mas é pra ter medo mesmo. Sabe por quê? Porque rola intimidade, cumplicidade e alegria. Rola um tesão também. Auto-controle budista que nós temos. Sabe por quê? Porque a gente se respeita. Porque a gente se ama amor de maluco - e isso você conhece bem... Porque a gente não quer (se) magoar. E a gente sabe das limitações de cada um.

É pra ter medo porque é um prazer estar comigo. Porque nossa relação é de iguais, por incrível que possa parecer. 

É pra ter medo porque não tem fingimento nem pudores. Tem alegria e criação e choro e beleza e música e poesia e bebida e comida e risadas e gargalhadas, muitas.

É pra ter me medo porque tem leveza.

É pra ter medo porque eu sou perturbadora - desisto de me livrar desse adjetivo - e intensa.

Porque sou sensual e inocente.

E é pra ter medo mesmo porque eu tenho coragem de viver minha solidão. E isso me dá força.

Que você não tem.

Dos desejos

Dormir

Resolver

Limpar

Lavar

Guardar

Arrumar

Ganhar

Começar

Qualificar

Passar

Trocar

Rever

Estreitar

Viajar

Conhecer

Receber

Um beijo




sábado, 2 de novembro de 2013

coisa

Às vezes parece que nada aconteceu.

Às vezes tem-se a certeza de que muita coisa aconteceu.

É difícil sair da dicotomia. Porque alguma coisa aconteceu.

Olhos se fitaram.

Corpos se tocaram.

Sorrisos se cruzaram.

Segredos se confessaram.

Machucados se curaram.

Pequenas solidões  se dissiparam.

Parcerias se fizeram.

Alegrias se somaram.

Dores se apaziguaram.

E se alguma coisa aconteceu

É porque outra coisa virou.

Corpos...

Mão pesada?

Pesado é receber abraço.

Quando se quer beijo.

Sabia que tá doendo?

Tá doendo esse buraco, que insiste em ocar aqui...

Tá doendo esse não-sei, esse sei-lá, essa sensação de morte.

Tá doendo essa saudade de gente.

Essa saudade de coisa (não) vivida.

Tá doendo ver

Que não está nem aí.

Pedro falou, tá falado!

E ele diz do alto de seus oito anos:

- Mãe, tirando gente, qual a coisa que vc mais gosta? Igual a armário, flor, montanha?

- Pode ser música? - Ela responde perguntando.

- Pode.

- E vc? (Mãe de curioso, curiosa é...)

- Eu gosto de morcego. E de Tecnologia.



- Sexta é dia de brinquedo! - Comunica o atarefado virginiano para sua avó.

- Tem certeza?

- Tenho sim, a professora falou.

- Vc já está na terceira série... Até quando vc vai levar brinquedo?

- Acho que vou levar brinquedo até a faculdade.

E eu desejo que vc queira brincar por toda a vida...

- Mãe, vi um homem tão feio na rua! Ele tava inteiro tatuado nas costas, nas pernas, nos braços e nos dedos das mãos. Fiquei com vontade de cantar pra ele:

"Quando Deus te desenhou, ele tava sem borracha, sem apontador e com o lápis sem ponta..."




Mãe, posso ver o DVD que vc me deu na Páscoa?
Pode. Mas não foi o Coelho que te deu?

- Não. O coelho de Páscoa só dá ovo. Presente dá vc e o Papai Noel no Natal...



E ele lê o recado da agenda pra mãe, muito solícito:

"Trazer para a próxima aula uma foto 3 vezes 4,

recente"...

Ensinado a tocar flauta doce: "Você tem que prestar atenção e colocar os dedos nos edifícios certos..."

Perguntas "básicas": De onde sai a teia da aranha, da laringe? Qual a coisa mais saudável do mundo?



O que realmente importa: (depois de ter retirado o aparelho ortodôntico fixo) "agora sim vc vai poder apertar minha bochecha e eu vou poder comer chiclete!"



Explicando porque não queria brincar com a garotinha: "tenho vergonha de brincar com meninas do sexo oposto"



Mãe, vc é de que signo? Peixes ou Camarões?

Por que os malucos gostam de arte?



- Mãe, por que o Presidente da República é rico?

- Ah, sei lá... Porque ele ganha muito dinheiro...

- E por que ele ganha muito dinheiro se ele não faz nada?

Comentário sobre a matéria do Fantástico, a respeito do sumiço do Belchior: "mãe, olha o Gopal!"



De que adianta lactobacilos vivos, se quando a gente agita o yacult eles morrem todos?



Mãe, explica EXATAMENTE o que é fé.