Ela avisa que vai entrar em contato - de novo - com o pedreiro. E sobe as escadas.
A torneira do seu banheiro quebrou. Não para de jorrar água. É necessário fechar o registro. O único para os dois banheiros. Sem água ou água em excesso.
E o vizinho interfona de novo! Manda falar que está no banho. Que tal um pouco de sossego?
Dia seguinte, nova ligação às 7:00h da manhã! Compreensível o desejo de matar... Não!! Ela não vai descer pra ver a água pingando.
De noite, nova ligação. Como são sortudas as pessoas que convivem com seres humanos educados...
E o teto embolorado, água pingando, jorrando; o registro fechado e a torneira seca.
Tudo será quebrado, removido, consertado. De algum jeito, de qualquer jeito.
Mas é ela quem jorra, quem extravasa e inunda o vizinho que não quer essa água toda fora de lugar, estragando suas coisas. Sim, ela estraga tudo, sobretudo a si mesma.
Abundância que virou desperdício. E sua preocupação é com o silêncio. Nada do outro lado. Porque nada significa e assim será por um tempo. Longo para ela. A água afoga, sufoca e mata. Escorre continuamente para nada.
E "nada" pode ser insuportável. E nada também é espaço. Que espaço ocupa na vida do outro? Nada... Stupid girl...
Os beijos molhados vivem na cabeça oca. Porque o fato é o vazamento no apartamento de baixo.
E o nada à frente.
Quem é a 4ª pessoa do singular? Como se conserta alguém que se derrama tanto?
O vazamento é patético, o registro fechado é um saco, a reforma é ridícula.
Mas é o nada que dói, que humilha, que aponta e informa: não há nada para quem é ninguém.
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