Que bom que você veio!
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Uns nós
Parece não acreditar no que vê: a boca mexe num abre-e-fecha sem som.
Ela olha em volta e aquelas paredes lhe dão a sensação de comprimi-la.
Ela olha pra ele, que continua em sua fala muda sem saber da angústia que a assusta.
É o jeito preferido dela estar com ele: sozinhos. Mas ela não relaxa.
Sente o tempo congelado dentro daquela sala, mas tudo girando freneticamente à sua volta. Ela teme desmaiar.
As palavras dele voltam a ter som. Uma certa conversa se instaura, mas há uma eletricidade no ambiente: ambos fingem, talvez. Talvez quisessem estar em outro espaço, fazendo outra coisa.
Querem estar juntos. Os abraços apertados são bons, mas ela não consegue retribuir dessa vez. O corpo mole não aperta, porque se fizer isso, capaz de não soltar. Segura choro e vontade de aninhar, frente a mais uma história triste. Quanta dor cabe no espaço-vida...
Sente que quer ficar perto, conta histórias, lamenta-se sobre o que tem observado por aí. Fala de si?
Parecem caminhar lentamente para algo irresistível e incontrolável. Mas recuam. Ambos. Medo e desejo, diz a música...
Confusão, ambiguidade, vontade de estar perto. Saudade.
Quanto sentimento cabe no espaço entre esses corpos?
Pela primeira vez viu que não era a única a querer estar perto.
Pela primeira vez falou de coisas que saíram do plano virtual, tornando-se "reais", virando corpo-mensagem. Cenas perturbadoras: a performance, a poesia, o texto mortal desferido num dia de amarga dor. Soube, enfim, que o que enviou foi recebido.
A comunicação sempre existiu. Na fala, na escrita. No silêncio. Na loucura. Na alegria.
Pela primeira vez sentiu medo da reciprocidade.
Pedro falou, tá falado!
E ele diz do alto de seus oito anos:
- Mãe, tirando gente, qual a coisa que vc mais gosta? Igual a armário, flor, montanha?
- Pode ser música? - Ela responde perguntando.
- Pode.
- E vc? (Mãe de curioso, curiosa é...)
- Eu gosto de morcego. E de Tecnologia.
- Sexta é dia de brinquedo! - Comunica o atarefado virginiano para sua avó.
- Tem certeza?
- Tenho sim, a professora falou.
- Vc já está na terceira série... Até quando vc vai levar brinquedo?
- Acho que vou levar brinquedo até a faculdade.
E eu desejo que vc queira brincar por toda a vida...- Mãe, vi um homem tão feio na rua! Ele tava inteiro tatuado nas costas, nas pernas, nos braços e nos dedos das mãos. Fiquei com vontade de cantar pra ele:
"Quando Deus te desenhou, ele tava sem borracha, sem apontador e com o lápis sem ponta..."
Mãe, posso ver o DVD que vc me deu na Páscoa? Pode. Mas não foi o Coelho que te deu?
- Não. O coelho de Páscoa só dá ovo. Presente dá vc e o Papai Noel no Natal...
E ele lê o recado da agenda pra mãe, muito solícito:
"Trazer para a próxima aula uma foto 3 vezes 4,
recente"...Ensinado a tocar flauta doce: "Você tem que prestar atenção e colocar os dedos nos edifícios certos..."
Perguntas "básicas": De onde sai a teia da aranha, da laringe? Qual a coisa mais saudável do mundo?
O que realmente importa: (depois de ter retirado o aparelho ortodôntico fixo) "agora sim vc vai poder apertar minha bochecha e eu vou poder comer chiclete!"
Explicando porque não queria brincar com a garotinha: "tenho vergonha de brincar com meninas do sexo oposto"
Mãe, vc é de que signo? Peixes ou Camarões?Por que os malucos gostam de arte?
- Mãe, por que o Presidente da República é rico?
- Ah, sei lá... Porque ele ganha muito dinheiro...
- E por que ele ganha muito dinheiro se ele não faz nada?Comentário sobre a matéria do Fantástico, a respeito do sumiço do Belchior: "mãe, olha o Gopal!"
De que adianta lactobacilos vivos, se quando a gente agita o yacult eles morrem todos?
Mãe, explica EXATAMENTE o que é fé.
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